“Você colocou efeito?”
“Isso aí tem Photoshop, né?”
“Que filtro é esse?”
“Qual app você usa?”
Tem sempre alguém lançando esse tipo de pergunta lá no meu perfil no Instagram. Então resolvi ser prático: colocar o blog no ar e jogar a polêmica no ventilador. No final das contas, vai tudo recair no mesmo assunto: tratamento/edição de imagem. Mas antes de ~tratar do tratamento~, um breve parênteses.
Nem todo mundo sabe, mas sou jornalista por formação. E, no jornalismo, existe um negócio chamado LIDE, que é, basicamente, a primeira parte de qualquer notícia. Ali são apresentadas as respostas para as perguntas O QUÊ?, QUEM?, QUANDO?, COMO?, ONDE? E POR QUÊ? Pra deixar a coisa mais dinâmica (e mostrar que não nego minhas origens), vou explicar o tratamento/edição na fotografia usando essa estrutura, beleza?
O QUÊ?
Pode-se dizer que tratamento ou edição na fotografia é qualquer tipo de ajuste feito numa imagem, tenha ela sido capturada por meio digital ou analógico.
POR QUÊ?
Fotografia é arte. Uma forma de expressão, geralmente criada com algum tipo de intenção (guarde esta palavra!). O tratamento, assim, pode ser visto como uma ferramenta a serviço de tal intenção. O autor/criador da imagem usa a edição porque quer corrigir imperfeições, amenizar os aspectos negativos, evidenciar os positivos e por aí vai.
COMO?
Hoje, vivemos a era da fotografia digital. E, de carona, dos softwares de edição de imagem. Tem de tudo. Desde programas bem complicados até aplicativos de celular, nos quais é possível fazer um tratamento com apenas um clique. O tal do filtro, lembra? Eu, por exemplo, faço o tratamento das minhas imagens no Lightroom e (em raros casos) no Photoshop. O que nem todo mundo sabe é que não é só foto digital que tem tratamento ou edição. Daqui a pouco explico isso melhor.
QUEM?
Você achou que esse negócio de tratamento era coisa das novas gerações? Que começou com o surgimento dos softwares de edição de imagem? Achou errado! A galera da velha guarda já fazia isso muito antes de alguém sonhar em ter Photoshop. De Cartier-Bresson a Ansel Adams, todos, em menor ou maior escala, faziam algum tipo de edição em suas fotos. O que nos leva à resposta da próxima pergunta.
QUANDO?
Como falei, hoje em dia dá pra editar imagem com um clique, no celular. Mas antigamente… A parada era um pouquinho mais complicada. Primeiro, porque não existia fotografia digital. Era tudo analógico. Então, o tratamento começava já na revelação do negativo. O tempo que o filme ficava em contato com o revelador e até o tipo de chacoalhada (sou muito fã dessa palavra) no recipiente influenciava, por exemplo, no contraste daquelas imagens. Mas não parava por aí. Na hora da ampliação, a turma se amarrava num tal de “dodge” e “burn”. Se você tem alguma familiaridade com Photoshop, bateu uma surpresa agora, né? Pra quem não sabe, “dodge” e “burn” são técnicas para clarear ou escurecer determinadas partes de uma imagem. Pois bem. O que hoje é um botãozinho no Photoshop, antigamente a galera fazia na mão. Literalmente. (vale a pena dar uma googlada sobre o assunto). Resumindo, tratamento ou edição em fotografia existe desde que existe fotografia. O que mudou foram as maneiras de se fazer isso. E os lugares. A revelação, por exemplo, na época das fotografias analógicas era feita no chamado quarto escuro. Ou dark room, em inglês. Não por acaso, um dos mais famosos softwares de edição de imagem digital que temos hoje chama-se Lightroom.
ONDE?
É muito complicado, atualmente, dividir os segmentos da fotografia entre quem tem e quem não tem tratamento. Afinal, se consideramos que um simples recorte já é um ajuste e, dessa forma, uma edição, praticamente toda imagem que vemos hoje foi tratada. O que diferencia essas imagens, então, é o nível de edição ao qual elas foram submetidas.
Tá. E aí?
E aí que, concluído nosso lide sobre tratamento/edição, a pergunta que certamente começa a habitar sua mente é: existe um limite pra tudo isso? Até que ponto é ético editar uma imagem? E minha resposta é: putz, é complicado pra cacete falar disso!
No fotojornalismo até que é mais fácil se chegar a um consenso. Por ser uma vertente do jornalismo, sua intenção (lembra dessa palavra?) é ser uma espécie de espelho da realidade. Ou seja, a regra é ter o mínimo de tratamento/edição possível.
Mas nas outras frentes da fotografia é extremamente difícil fazer uma demarcação de limites. Como já foi dito, fotografia é arte. É, portanto, o fotógrafo, enquanto artista, quem geralmente determina as linhas que vai ou não cruzar.
Eu, por exemplo, não curto fazer “montagens”. Usar o chão de um cenário, o céu de outro, colocar uma árvore que não existe, de verdade, naquele lugar etc. Minha abordagem é, digamos, mais conservadora. Procuro trabalhar na edição das cores, contraste, nitidez, composição, luz, sombra. Não significa que o que eu faço é certo e o que outros fotógrafos fazem é errado. Não existe certo e errado aqui. O que existe são interpretações diferentes.
Pra ajudar a entender, imagine que eu e você estamos juntos, assistindo ao mesmo pôr do sol, e cada um de nós faz uma foto, ao mesmo tempo. A cena registrada foi a mesma. Mas pode ser que a maneira como interpretamos aquela cena, em nossa memória, seja completamente diferente. E se cada um de nós fizer um tratamento baseado nessa percepção, teremos duas imagens diferentes também, certo? Então dá pra dizer que um está certo e outro está errado? Não, né? Pois é.
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